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sexta-feira, 20 de janeiro de 2017
terça-feira, 13 de dezembro de 2016
Jesse Owens, o atleta negro que viveu o sonho americano na Alemanha Nazista
Berlim, 1936. Um ex-soldado de guerra comandava uma
ditadura em seu país e queria demonstrar a superioridade de seu povo em relação
aos demais, a partir dos Jogos Olímpicos daquele ano. Mas o ditador teria esbarrado
seus planos em um neto de escravo que bateria recordes e encantaria milhares de
fãs do esporte. O tirano em questão é Adolf Hitler que foi surpreendido pelos
feitos históricos de Jesse Owens, atleta americano vencedor de quatro medalhas
de ouros nas Olímpiadas daquele ano.
As façanhas e a própria figura de Jesse Owens é toda
envolta de mitos e mistérios, mas a LE irá contar a epopeia desse esportista
que teve o preconceito como principal adversário em sua carreira.
Na chamada “High School”, Jesse já demonstrava o seu
talento no atletismo. Batendo recordes de salto em altura e no salto em
distância. Foi campeão estadual de Ohio três vezes e chegou ao recorde mundial
correndo 91 metros em 9,4 segundos e também completou cerca de 200 metros em
20,7 segundos, sendo o recorde mundial do ensino médio daquela época. Desta
forma Owens se credenciou a ser um dos representantes do atletismo
estadunidense nos Jogos Olímpicos em Berlim.
Em 1936, a Alemanha se reconstruía após a Primeira Guerra
Mundial, da qual saiu derrotada e humilhada. Sob o comando de uma nova figura política
com vários ideais e valores difundidos sobre a superioridade da raça ariana sobre as demais. E as
Olimpíadas daquele ano era a ocasião perfeita para Hitler mostrar como a população germânica havia se
reerguido. Assim como uma fênix iria se levantar das cinzas e demonstrar toda a
sua redenção ao competir com toda a sua força para conquistar glórias no seu
domínio.
Entretanto algo que o Führer não contava é que o jovem
Jesse Owens, 23 anos, iria decidido a mostrar o seu melhor e roubar a cena, levando
os expectadores alemães ao delírio.
O show de Jesse
começou na disputa dos 100 metros, na qual era favorito, Owens chegou à marca
dos 10,3 segundos e estabeleceu o novo recorde olímpico da época e
consequentemente o lugar mais alto do pódio na competição. O atleta negro
declarou ao Jornal Correio do Povo de 04 de agosto de 1936, tais palavras: “Pareceu-me de um momento para
outro que, quando corria, possuía asas. Todo o estádio apresentava um aspecto
tão festivo que me contagiei e foi com mais alegria que corri, parecendo que
havia perdido o peso do meu corpo. O entusiasmo esportivo dos espectadores
alemães me causou profunda impressão, especialmente a atitude cavalheiresca da
assistência. Podem dizer a todos que agradecemos a hospitalidade germânica”.
Na segunda competição, talvez a mais marcante, foi a de
salto em distância, na qual Jesse tinha como principal adversário o atleta local
Lutz Long. O atleta estadunidense precisaria dar um show e foi o que fez. Saltou
muito bem e atingiu a marca de 8 metros, novamente quebrando um recorde. Lutz
teria que dar um salto perfeito para superar Owens, não o conseguiu como
queimou a marca de partida do salto. O ouro novamente era de Jesse Owens que
revelou uma dica que Lutz deu para ele: de atrasar o ponto de arranque para
conseguir um salto melhor, uma demonstração de espírito esportivo entre os
atletas. Long e Owens cultivaram uma longa e carinhosa amizade. Assim como foi
a recepção do povo germânico as conquistas do norte americano.
Tanto que na terceira competição de Jesse, todos já
esperavam uma vitória da sensação da Olimpíadas. O Estádio Nacional de Berlim
estava lotado para vê-lo competindo nos 200 metros. E Jesse não decepcionou, outro
ouro e recorde completando a prova em 20,7 segundos.
A quarta e a última medalha de ouro veio no revezamento
4x100 com a equipe estadunidense de atletismo e como era de se esperar mais um
recorde: a prova foi completada em 39,8 segundos. Esse foi o desfecho ideal para
o sonho do americano. Foi o primeiro estadunidense do atletismo a ganhar quatro
medalhas de ouro em uma Olímpiadas. Feito só repetido 48 anos mais tarde, por
outro atleta negro, Carl Lewis.
Jesse Owens virou uma atração e era assediado aonde ia. Tanto
que pediu para seu companheiro Herb Fleming também autografar em seu nome para
não sobrecarregá-lo muito. Um reflexo desse carinho alemão com o atleta pode
ser observado também na obra do autor australiano Markus Zusak: “A menina que
roubava livros”, que descreve a época da Alemanha Nazista, na qual uma das
personagens, o jovem Rudy Steiner, ariano, se pintava com fuligens de carvão e
corria pelas ruas imitando seu ídolo Jesse Owens.
Todo esse carinho ao norte americano só não deve ter
agradado ao governante Adolf Hitler. Histórias surgiram que o ditador até teria
se irritado e recusado a entregar uma medalha ao atleta após uma de suas vitórias,
o fato nunca foi comprovado historicamente, mas surge como um mito sobre a
figura lendária que foi Jesse Owens. Entretanto algo é possível afirmar se as
Olímpiadas era um fator para demonstrar a supremacia ariana germânica, Jesse
quebrou esse conceito tão rápido quanto seus recordes, apesar da vitória da
Alemanha no quadro geral de medalhas, para fúria do Führer.
Mas se na Alemanha, Jesse se tornou ídolo e foi
reverenciado pelo público, na volta ao seu país a história foi diferente. Frank
Roosevelt, o até então presidente estadunidense, não o recebeu na Casa Branca,
pois tinha receio de perder eleitores do Sul, pois era ano de eleição nos
Estados Unidos e o país ainda vivia a época de segregação racial, tanto que Owens
nem sequer recebeu uma mensagem do presidente.
O racismo em seu país foi o maior atraso na vida do ágil
atleta Jesse Owens, que mesmo sendo o principal atleta de sua geração não fazia
publicidade de artigos esportivos, pois sofria risco de boicote dos sulistas: “Voltei para meu país, um lugar onde não podia sentar na parte
da frente de um ônibus” declarou Owens. Nesse cenário, Jesse
começou a competir por dinheiro o que gerou sua expulsão da Associação Amadora
de Atletismo.
Owens se afastou do atletismo e se dedicou a dar palestras
e fazer as mais variadas funções. Em 1970, teve um livro bibliográfico escrito
por Jeremy Schaap chamado “Triumph”, no qual Owens teria afirmado: “Não foi
Hitler que me ignorou- quem o fez foi Franklin Delano Roosevelt”.
Em 76, o empenho de Jesse finalmente foi reconhecido pelos
líderes políticos de seu país, ele recebeu a honraria da “Medalha Presidencial
da Liberdade” pelo presidente Gerald Ford.
Owens veio a falecer em 1980 com câncer de pulmão, ligado
ao consumo de cigarros. No ano posterior a sua morte a Revista “USA Track & Field” criou o prêmio Jesse
Owens Award para jovens atletas.
Em 1979, em outra visita na Casa Branca o até então
presidente americano Jimmy Carter resumiu os feitos de Owens: “Talvez nenhum atleta simbolizou mais a luta humana
contra a tirania, a pobreza e a intolerância racial. Seus triunfos pessoais
como um atleta de classe como recordista mundial foram o prelúdio de uma
carreira dedicada a ajudar os outros. Seu trabalho com jovens atletas, como um
embaixador não oficial no exterior, e um porta-voz da liberdade são um rico
legado a seus compatriotas americanos “.
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